Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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A criança Pedro Henrique (04 anos) morava na pobre cidade de Capelinha, Minas Gerais. Os pais, alcoólatras, não cuidavam dele, tarefa que cabia a irmã mais velha, uma pré-adolescente de 13 anos. Os dois comiam basicamente arroz, único prato que a irmã sabia preparar.

O Conselho Tutelar cansou de dar viagens ao lar (?) com o propósito de convencer os pais a cuidarem dos filhos. Em vão.

A mãe morreu aos 28 anos, de cirrose hepática. O pai sumiu. Ninguém sabe se está vivo ou morto. Assim, o destino dos dois filhos foi um abrigo. Entraram na lista de adoção.

Uma família se interessou por Pedro Henrique e o adotou. Passados alguns meses veio devolvê-lo, alegando que a criança era muito danada. Foi a segunda rejeição que o menino, então com cinco anos, teve na vida.

A criança ainda não sabia o que era um lar, uma família, uma vida minimamente digna.

Em abril deste ano, contudo, ele recebeu a notícia de que um casal estava disposto a adotá-lo. Eram do Rio de Janeiro. Pedro Henrique ficou meio ressabiado. Temia a terceira rejeição. Após uma conversa com a psicóloga e a assistente social da Vara de Infância, PH ficou mais calmo, mas não totalmente. Aquele medo ainda tomava conta dele.

Enfim a criança foi apresentada aos novos pais, e pais aqui no sentido literal. Ele foi adotado pelo casal Gilberto Scofield, um jornalista bem sucedido; e Rodrigo Mello, um corretor de imóveis de luxo, igualmente bem sucedido.

O casal temia a relação da criança, mas esta foi a melhor possível. Eles chegaram a calcular em quanto tempo ela se sentiria parte da família: Um mês, dois meses? Erraram feio. Em meia hora PH estava chamando Rodrigo de pai.

Pedro Henrique de Mello Scofield saiu do abrigo e hoje mora muito bem no Rio de Janeiro (RJ), onde tem acesso a boas escolas, parques, restaurantes, uma casa confortável. Vive um sonho.

OPINIÃO DO BLOG. O post acima é um breve resumo de uma matéria de sete páginas publicada na edição 105 da revista Piauí. Foi escrita por um dos adotantes, o jornalista Gilberto Scofield Jr.

Confesso que até ler a matéria eu me posicionava terminantemente contra a adoção de crianças por casais homoafetivos, mas o texto me fez refletir mais um pouco sobre o tema, despertando em mim algumas reflexões.

Para Pedro Henrique, a adoção foi bem melhor. Agora ele terá um lar, terá duas pessoas que cuidarão dele e que lhe darão amor e carinho, além de boa educação. Posso sim dizer que foi um sortudo.

Outras 185 mil crianças – que vivem em abrigos, em sua maioria abandonadas pelos pais – queriam ter a sorte que Pedro Henrique teve.

É inegável que ele deverá sofrer constrangimentos durante sua vida, assim como os filhos de pais separados sofreram num passado não muito distante.

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Uma resposta

  1. Quando uma juíza de certa cidade paulista deu a guarda de uma criança a um casal homoafetivo – um dos primeiros casos no Brasil -, recebeu muitas críticas. Diante disso ela respondeu: nenhum casal hétero quis adotar essa criança por ser negra e ter cinco anos. Passado o tempo a boa forma de cuidar e educar a criança chamou a atenção da sociedade daquele lugar. Então, percebeu-se que é melhor entregar a guarda de uma criança a alguém que esteja disposta a cuidar e amar, do que deixá-la entregue a laje fria de um orfanato.

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